Contos e (En)cantos

Amor com incompreensão (Felicidade Clandestina, 1971)

Clarice Lispector*

Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado:
pensava que, somando as compreensões, eu amava.
Não sabia que, somando as incompreensões,
é que se ama verdadeiramente.
Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil.
É porque eu não quis o amor solene,
sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em
oferenda.
 E é também porque sempre fui de brigar muito,
meu modo é brigando.
É porque sempre tento chegar pelo meu modo.
É porque ainda não sei ceder.
É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria
– e não o que é.
É porque ainda sou eu mesma,
e então o castigo é amar um mundo que não é ele.
É também porque me ofendo à toa.
É porque talvez eu precise que me digam com brutalidade,
pois sou muito teimosa.

*Escritora e jornalista ucraniana naturalizada brasileira, nasceu em 10 de dezembro de 1920, em Chechelnyk. Passou os primeiros anos de sua infância no Recife/PE e se declarava pernambucana. Autora de romances, contos e ensaios, recebeu diversos prêmios entre eles o Prêmio da Fundação Cultural do Distrito Federal e o Prêmio Graça Aranha. É considerada uma das mais importantes escritoras brasileiras do século XX e a maior escritora de origem judia. Faleceu em 09 de dezembro de 1977, no Rio de Janeiro.

Pergunta para refletir sobre o texto: O que tem aprendido sobre o “cálculo matemático do amor” ou sobre o sentido de amar?

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