Traduzir-se*
Ferreira Gullar**
Uma parte de mim
é todo mundo;
outra parte é ninguém:
}fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera;
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta;
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente;
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem;
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte
— que é uma questão de vida ou morte —
será arte?
*Enviado pela estudante de Pedagogia, do Centro de Educação (UFPE), Deiviane Reis de Melo Freitas
**Pseudônimo de José Ribamar Ferreira, considerado um dos maiores autores brasileiros, nasceu em São Luiz do Maranhão, em 10 de setembro de 1930. Foi poeta, escrito, tradutor, teatrólogo e um dos fundadores do neoconcretismo. Faleceu em 04 de dezembro de 2016
Questão para refletir sobre o texto: Como você traduz uma parte de si na outra parte?
Parabéns pela iniciativa. Contos, encantos e poesia para tornar mais vivos os nossos dias de quarentena.
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Tatiana, é literatura para nos acolher, afetar-nos e para nos ajudar a recontar a nossa própria história.
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Belíssima iniciativa!
Que gostoso entrar neste cantinho e ver tantas lindezas nestes dias estranhos que estamos vivendo.
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