Viver
Carlos Drummond de Andrade*
Mas era apenas isso,
era isso, mais nada?
Era só a batida
numa porta fechada?
E ninguém respondendo,
nenhum gesto de abrir:
era, sem fechadura,
uma chave perdida?
Isso, ou menos que isso
uma noção de porta,
o projecto de abri-la
sem haver outro lado?
O projecto de escuta
à procura de som?
O responder que oferta
o dom de uma recusa?
Como viver o mundo
em termos de esperança?
E que palavra é essa
que a vida não alcança?
*Escritor e servidor público nascido em Itabira de Mato Dentro, interior de Minas Gerais, no dia 31 de outubro de 1902. É considerado um dos melhores poetas brasileiros do século XX, que fez parte da segunda geração Modernista e produziu uma poesia de questionamento em torno da existência humana. Faleceu no Rio de Janeiro, no dia 17 de agosto de 1987
Pergunta para refletir sobre o texto: O que é viver para você?
Parabéns pela iniciativa. Contos, encantos e poesia para tornar mais vivos os nossos dias de quarentena.
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Tatiana, é literatura para nos acolher, afetar-nos e para nos ajudar a recontar a nossa própria história.
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Belíssima iniciativa!
Que gostoso entrar neste cantinho e ver tantas lindezas nestes dias estranhos que estamos vivendo.
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