Se eu pudesse – Fernando Pessoa/Alberto Caeiro*
Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
E se a terra fosse uma cousa para trincar
Seria mais feliz um momento…
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural…
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva…
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica…
Assim é e assim seja…
(Poema XXI de O Guardador de Rebanhos)
*Nasceu em Lisboa, Portugal, no dia 13 de junho de 1888. Poeta, filósofo, dramaturgo, ensaísta, tradutor, publicitário, astrólogo, inventor, Fernando Pessoa era conhecido por criar múltiplas personalidades – os heterônimos, cada um com sua vida própria, a saber: Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos, este o seu mais importante personagem.
Pergunta para refletir sobre o texto: Qual o seu modo de ser natural na (in)felicidade para enfrentar esse antigo-novo mundo?
Parabéns pela iniciativa. Contos, encantos e poesia para tornar mais vivos os nossos dias de quarentena.
CurtirCurtir
Tatiana, é literatura para nos acolher, afetar-nos e para nos ajudar a recontar a nossa própria história.
CurtirCurtir
Belíssima iniciativa!
Que gostoso entrar neste cantinho e ver tantas lindezas nestes dias estranhos que estamos vivendo.
CurtirCurtir