Contos e (En)cantos

O amor

Vladimir Maiakóvski* (1923)

Um dia, quem sabe,
ela, que também gostava de bichos,
apareça numa alameda do zôo,
sorridente,
tal como agora está
no retrato sobre a mesa.

Ela é tão bela,
que, por certo, hão de ressuscitá-la.
Vosso Trigésimo Século
ultrapassará o exame
de mil nadas,
que dilaceravam o coração.

Então,
de todo amor não terminado
seremos pago
sem inumeráveis noites de estrelas.

Ressuscita-me,
nem que seja só porque te esperava
como um poeta,
repelindo o absurdo quotidiano!

Ressuscita-me,
nem que seja só por isso!
Ressuscita-me!
Quero viver até o fim o que me cabe!
Para que o amor não seja mais escravo
de casamentos,
concupiscência,
salários.

Para que, maldizendo os leitos,
saltando dos coxins,
o amor se vá pelo universo inteiro.
Para que o dia,
que o sofrimento degrada,
não vos seja chorado, mendigado.

E que, ao primeiro apelo:
– Camaradas!
Atenta se volte a terra inteira.
Para viver
livre dos nichos das casas.

Para que doravante
a família seja
o pai,
pelo menos o Universo;
a mãe,
pelo menos a Terra.

* Poeta e dramaturgo russo nascido em 1893 na aldeia de Baghdati, na Geórgia, pertencente ao império russo, à época. É considerado um dos dos grandes renovadores da linguagem poética do século XX, ao lado de Ezra Pound e T.S. Eliot. Também foi um dos divulgadores da ideologia comunista na União Soviética. Suicidou-se em Moscou, no dia 14 de abril de 1930, por causa de uma decepção amorosa.

Pergunta para refletir sobre o texto: Em que você deseja que seu amor se transforme?

3 comentários em “Contos e (En)cantos

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