Girassóis da penúltima semana de maio
Na semana em que o Brasil atingiu mais de 1.000 óbitos em 24 horas provocados pela covid-19 (https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/editorias/pais/online/em-novo-recorde-brasil-supera-1-100-obitos-em-24-horas-1.2247409) e que a América Latina passa a ser considerado o novo epicentro da epidemia pela OMS, notadamente o Brasil (https://istoe.com.br/america-do-sul-e-novo-epicentro-da-pandemia-oms/), questões sobre as desigualdades sociais e econômicas vivenciadas pela população brasileira, tomaram as páginas de diferentes mídias digitais.
Na busca de soluções para evitar o aumento das desigualdades socais no Brasil, considerando o levantamento realizado pela Consultoria Idados, que evidencia que no primeiro trimestre deste ano, em comparação ao último trimestre de 2019, o total de domicílios sem renda do trabalho aumentou em um milhão de unidades, o Diretor do Dieese, Fausto Augusto Júnior, sugere que o auxílio emergencial se transforme em renda básica de cidadania (www.redebrasilatual.com.br/trabalho/2020/05/dieese-defende-transformar-auxilio-emergencial-em-renda-basica-de-cidadania/). Fato que, talvez, tenha se respaldado na publicação feita pela Auditoria Cidadã da Dívida, no último dia 19, argumentando ser inconstitucional o texto parlamentar aprovando, mais uma vez, que recursos públicos da União sejam sacrificados, isto é, injetados em bancos privados (https://auditoriacidada.org.br/pressa-para-aprovar-o-golpe-de-trilhoes-gerou-texto-inconstitucional/).
O Diretor do Dieese também comentou a respeito do levantamento realizado pelo IBGE que computou a existência de 5,1 milhões de moradias em condições precárias no país, denunciando a impossibilidade da população que vive nessas condições em aderir ao isolamento social, principal medida de combate ao novo coronavírus até esse momento.
A essas evidências, juntam-se a perpetuação e aumento da violência policial nas favelas (www.cartacapital.com.br/sociedade/menino-de-14-anos-morre-apos-ser-baleado-dentro-de-casa-pela-policia-no-rj/) e o drama de catadores de materiais recicláveis de diferentes Estados da Federação, que, por conta do fechamento das cooperativas em decorrência da pandemia, sem obter auxílio governamental, vivem a impossibilidade de cumprir com o pagamento do aluguel do imóvel onde vivem com suas famílias; ou ainda, a situação da população em situação de rua, que carece há tempos de uma política pública de moradia que a ampare (www.diariodocentrodomundo.com.br/ao-vivo-lula-conversa-com-catadores-e-moradores-de-rua-sobre-a-crise-do-coronavirus/ ), inviabilizando o incremento do percentual de isolamento social, mesmo em dias de lockdown.
Por outro lado, o Ministério da Saúde publicou esta semana um novo protocolo com a recomendação de administração da cloroquina e seu derivado, hidroxicloroquina, para o tratamento de pacientes com sintomas leves, cabendo ao médico a decisão sobre o uso desse medicamento, com a anuência do paciente por meio da assinatura do Termo de Ciência e Consentimento, um procedimento ético em pesquisa com seres humanos (https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2020-05/ministerio-saude-apresenta-novo-protocolo-para-uso-cloroquina). Na contramão dessa decisão ministerial, estudo desenvolvido em 671 hospitais em seis continentes, com pacientes internados entre 20 de dezembro de 2019 e 14 de abril deste ano, não demonstrou qualquer benefício do uso dessas drogas no combate à covid-19. Pelo contrário, os resultados indicam que a administração desses medicamentos aumenta o risco de morte e a chance de arritmias cardíacas graves nos pacientes (https://www.terra.com.br/noticias/coronavirus/defendida-por-bolsonaro-cloroquina-aumenta-risco-de-morte,40ecd5d145b2158a47b50b5fcfc4094c7ys0275a.html). Portanto, é ainda mais urgente pensamos na preservação da vida de todos e de cada um dos brasileiros nessa nova realidade que vivemos (https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2020/05/22/estudo-hidroxicloroquina.htm).
Assim, refletindo sobre a necessidade de preparar o povo para o enfrentamento de um futuro incerto provocado pela pandemia do covid-19, a Comissão Arns de Direitos Humanos, ressalta que o “Brasil precisa contar com um governo que coordene esforços para a superação da crise, começando por ouvir a voz do que vem das casas, das pessoas que sofrem, em todas as partes” (https://comissaoarns.org/blog/2020-05-18-o-presidente-perdeu-a-condi%C3%A7%C3%A3o-de-governar/). Na corrente de ações que se sustentam nessa reflexão, também nesta semana, a oposição e mais 400 entidades protocolaram pedido de Impeachment contra o Presidente Bolsonaro, alegando crime e atentado contra a saúde pública em meio à pandemia, ao mesmo tem em que, denuncia a sua falta de condições políticas, administrativa e humanas para governar o Brasil (https://www.metropoles.com/jair-bolsonaro/oposicao-e-400-entidades-protocolam-pedido-de-impeachment-contra-bolsonaro).
Apesar de um contexto em que prevalece o autoritarismo e em que a democracia se vê ameaçada, a voz do povo ressoou, mais uma vez esta semana, representada pelo movimento estudantil e de outras entidades, quando da aprovação do Projeto de Lei que adia a prova do ENEM em votação no Plenário do Congresso, em 19 de maio, por 75 votos a 01 (https://www.brasildefato.com.br/2020/05/19/senado-aprova-projeto-de-lei-que-adia-prova-do-enem-maia-pede-posicao-de-bolsonaro), fazendo nascer um sopro de esperança em um futuro sustentado nas bases da igualdade de oportunidades, na equidade e no bem-estar social para todos nesse novo mundo.
Essa esperança, em tempos de pandemia, é acalorada pela pesquisa conduzida por cientistas chineses do Instituto de Biotecnologia de Pequim, que apresentou resultados animadores de teste em humanos de uma possível vacina contra a covid-19, conforme publicado na revista científica The Lancet (https://www.terra.com.br/vida-e-estilo/saude/covid-19-teste-de-vacina-tem-resposta-imune-e-segura,1c45d852fa82ef258959d21933c7d925tuw35p6i.html). Apesar do primeiro autor da pesquisa afirmar que é preciso cautela em relação à eficácia da vacina para combater a covid-19 em humanos, bem como, sobre as limitações metodológicas do estudo, que ainda precisa avançar nas etapas de sua evolução, a investigação se abre como uma janela de possibilidades de combate ao novo coronavírus, colocando a ciência como uma das protagonistas no processo de desenvolvimento da humanidade.
A realidade é que, enquanto a maioria da população brasileira morre de covid-19, é assaltada diariamente pelo sistema financeiro e o país é induzido à distopia via “liberação” de vídeo de reunião ministerial, ameaça à democracia, intermináveis conteúdos midiáticos e afetos políticos limitados, outros países se orientam agora pelos acordes do recomeço e esperança social pós-pandemia (https://www.nsctotal.com.br/noticias/a-reabertura-da-alemanha-e-a-esperanca-de-uma-vida-pos-pandemia-quase-normal), desenvolvimento e crescimento econômico compartilhados e focados, entre outros objetivos, na erradicação da pobreza (http://portuguese.xinhuanet.com/2020-05/21/c_139075759.htm). Como também, na reinvenção das atividades diárias, saúde, melhoria da qualidade de vida e bem viver da sua população, demonstrando ao mundo que criar uma outra concepção de sociedade é possível e necessária (https://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2020-05-20/apos-enfrentar-covid-19-nova-zelandia-propoem-semana-de-quatro-dias-uteis.html). Se tudo isso esconde a intenção hegemonista desses países de ser a nova potência do mundo, teremos que realmente questionar, investigar, tomar posições.
Sandra Ataíde e Keyla Ferreira
Muito bom!
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