Giras(sóis)

Girassóis da terceira semana de junho

Segundo o estatístico e fundador do CastLab, professor Cristiano Ferraz, o número de óbitos causado pela covid-19 decresce em Pernambuco, na contramão do que acontece no Brasil, embora esse fenômeno não seja identificado na capital, Recife, onde se verifica o seu crescimento (http://www.adufepe.org.br/projecoes-apontam-reducao-nos-obitos-por-coronavirus-em-pernambuco-recife-registra-crescimento/ ). Aliado a essa avaliação, professores do Departamento de Estatística da UFPE, em carta dirigida à sociedade pernambucana se opondo à reabertura das instituições de ensino, alertam sobre o alto risco de contaminação do novo coronavírus e para o fato de que, no Brasil, a testagem é baixa, mas, apesar disso, para cada óbito pode-se estimar entre 30 e 60 infectados. Ademais, esses professores denunciam que, em Pernambuco, de acordo com as informações da secretaria de saúde, são 10 as cidades que apresentam grande risco da covid-19: Recife, Jaboatão, Olinda, Paulista, Cabo, Camaragibe, Vitória, São Lourenço, Igarassu e Ipojuca, chamando atenção, ainda, para a necessidade de prudência no que se refere às ações que são adotadas por todos e por cada um de nós brasileiros ao longo da pandemia (http://www.adufepe.org.br/professores-do-departamento-de-estatistica-da-ufpe-divulgam-orientacao-contraria-a-reabertura-de-instituicoes-de-ensino/ ).

Deste modo, chegamos no Brasil, na terceira semana de junho, ao terrível e triste patamar de mais de 50.000 óbitos provocados pela covid-19. Então, fica a pergunta: já é o momento de flexibilizar o isolamento social? De acordo com o Comitê de Enfrentamento do Novo Coronavírus da UFMG, o momento ainda é de reforçar o isolamento e não de flexibilização. Em artigo publicado pelo grupo, e comentado pelo Jornal Estado de Minas Online quando o total de mortos no país ainda era de dez mil casos, a tese pela manutenção do isolamento está fundamentada em 10 argumentos científicos, dentre os quais, podemos destacar aqui três deles: (i) a transmissão do vírus ainda não está controlado no país, (ii) há subnotificação de casos e ausência de um planejamento de testagem, (iii) a “imunidade de rebanho”, ou seja, a noção de “resistência adquirida pela população após o contágio por uma doença”, não se identificará no Brasil em curto prazo (https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2020/05/10/interna_gerais,1145946/nove-argumentos-cientificos-contra-a-flexibilizacao-do-isolamento.shtml ). Nesse caso, o Comitê traz à tona a importância da valorização da vida, quando, o pêndulo, muitas vezes, tende para a economia em detrimento das pessoas.

Porém, como questiona o Observatório das Favelas, “Quem são os humanos? Quem são as pessoas?” Segundo a reflexão desse Observatório, “Nas orientações amplamente divulgadas [nas mídias] a resposta é direta: pessoa é quem pode parar sem que seus direitos fundamentais tenham que ser negociados” (http://of.org.br/noticias-analises/disputando-narrativas-de-existencia/ ). Diante disso, a estratégia encontrada coletivamente para possibilitar o fortalecimento da democracia e combater as desigualdades sociais foi a estratégia da comunicação “costurando narrativas de proteção, enfrentamento e cuidado pensadas para e a partir de moradoras/es de favelas e periferias.”, com o objetivo de “tensionar debates e [possibilitar] a construção de políticas públicas que visem a proteção dos direitos fundamentais das populações em situação de maior vulnerabilidade frente aos impactos da pandemia.”

Por outro lado, o governo federal, até esse momento, utilizou 25% aproximadamente do orçamento aprovado pelo Congresso para combater a covid-19, demonstrando uma franca adesão à flexibilização e ao investimento no mercado, quando a curva do coronavírus, na maioria dos Estados do Brasil, ainda não foi nem sequer achatada (https://g1.globo.com/globonews/globonews-debate/playlist/globonews-debate-alexandre-padilha-pt-sp-marcelo-calero-cidadania-rj-e-major-olimpio-psl-sp-discutem-crise-politica-no-brasil.ghtml ), e seria necessário realizar mais investimento em saúde pública para o combate à crise sanitária, bem como planejar ações de proteção à população em situação de maior vulnerabilidade.

Todavia, esse investimento será mesmo empregado no enfrentamento da pandemia? Quando? Se até a questão da ausência de testagem é desdenhada pela ultradireita e o que acontece com a maioria da população, desde o golpe parlamentar de 12 de maio de 2016, início da pandemia, subnotificações, até mais de 50 mil mortes por covid-19 no Brasil, é violação de direitos, recrudescimento da violência, condição de extrema pobreza. Isto é, mortes por um lado e agravamento das desigualdades por outro (https://pt.org.br/contra-reducao-do-valor-pt-defende-estender-auxilio-emergencial-por-um-ano/ ). A abertura do “mar vermelho” foi feita apenas para a passagem das desumanidades de grupos e seus cargos, constituídos por “pessoas” parlamentares que, além de desconsiderar o pressuposto secular de separação, distinção, entre Estado e igreja, ainda formam, juntamente com determinados pastores evangélicos e interesses corporativos, a maioria na representação política brasileira na atualidade. Cenário que a pandemia mostra diariamente com o visível abismo fiscal, social, cultural, econômico, onde a desigualdade tem cor, classe, localização e o coronavírus, assim como toda a destruição emplacada pelo congelamento de gastos sociais, EC 95, seguem devorando pessoas, minuto a minuto (https://www.youtube.com/watch?v=ww3NQzGUHNs&list=UUwefw3viiiaxprsV6jgJvEA  https://www.youtube.com/watch?v=GWjAM_Um3nA ). Não por acaso, essa situação política no Brasil despeja sua terrível investida sobre as mulheres pobres, com atitudes criminosas de violência doméstica e feminicídio sofrida dentro de suas próprias casas (https://ponte.org/mulheres-enfrentam-em-casa-a-violencia-domestica-e-a-pandemia-da-covid-19/ ). Também recai, e é bem reforçada, na população periférica negra, indicando ao mundo as “pessoas” que têm alcance e cobertura no seu projeto político de excesso de poder (https://www.youtube.com/watch?v=iqZaeFHemHk  https://www.youtube.com/watch?v=WMSgvga3A6M ). Não bastasse, a situação camicase que também foi imposta à saúde brasileira, tornando-a num outro problema incontornável. Contudo, e a contragosto de algumas “pessoas”, nem o alto número de mortos por covid-19 entre os profissionais de saúde conseguiu arrefecer a luta e as manifestações por condições de trabalho, minimamente, seguras e aceitáveis ((https://twitter.com/J_LIVRES/status/1274748281982201857?ref_src=twsrc%5Egoogle%7Ctwcamp%5Eserp%7Ctwgr%5Etweet  https://www.redebrasilatual.com.br/trabalho/2020/06/trabalhadores-da-saude-condicoes-trabalho/ ). Desse modo, e no limiar do perigo, da tragédia da pandemia, o inimigo eleito pela ultradireita é o próprio trabalhador brasileiro, que tem sido compreendido ora como um trabalhador essencial. Ora como antídoto para a desesperança lucrativa do empresariado no Brasil (https://catracalivre.com.br/cidadania/entregadores-de-delivery-marcam-greve-geral-para-1o-de-julho/ ).

Sandra Ataíde e Keyla Ferreira

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