Outubro: tempo-hora de recomeçar!
Outubro de 2022 foi um mês surpreendente. Tradicionalmente celebrado como o mês de Nossa Senhora Aparecida, a Padroeira do Brasil, como o mês das crianças, como o mês das professoras, como o mês da prevenção do câncer de mama. Mas, o outubro desse ano ainda nos brindou com a vitória eleitoral do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores, para exercer o terceiro mandato presidencial (https://www.youtube.com/watch?v=QbfXU2LPC4g).
Agora é tempo-hora de festejar a Democracia, de reconstrução dos interesses públicos para o ano de 2023, pautados por anos de resistência, de reivindicação e de luta dos movimentos sociais e da agricultura familiar. Tempo-hora de fortalecer a sociedade civil, os valores e as estruturas democráticas do Estado de direito, mas, sem anistiar crimes contra a humanidade e sem “estigmatizar a loucura para combater o fascismo”. Tempo-hora de banir o neoliberalismo, ora militarizado, ora fascista, do nosso território. Tempo-hora de recuperar nossas estatais, a exemplo da Petrobras. Mas, principalmente, tempo-hora de mudar nossa matriz energética. Tempo-hora de paz e de saúde, de cuidar da Infância e da Juventude, de permanência dos 600 reais do Bolsa Família e de aumento real do salário-mínimo. Tempo-hora de valorização salarial das professoras, de reconstruir subjetividades, mentalidades e corpos perseguidos pelas ações antropogênicas que fere Mãe Terra, povos originários e povos quilombolas, pelos assaltos oligárquicos, misóginos, racistas, golpistas, machistas, acionistas, LGBTfóbicos, imperialistas.
Tempo-hora de, mais uma vez, reiterar o esforço educativo da Escola de Frankfurt quando Theodor Adorno (Educação após Auschwitz) enfatizou que a exigência para que Auschwitz não se repita é a primeira de todas para a educação, para uma educação antinazista. Recentemente, a mesma ênfase foi dada pelo professor Michel Gherman (IFCS/UFRJ), quando ele argumenta sobre a falência do ensino do holocausto no Brasil. De acordo com Gherman, precisamos erigir uma educação antinazista e intensificar a produção de uma pedagogia que interrogue e explique como foi possível, a sociedade alemã, se deixar levar por fanáticos nos anos de 1932 e 1933, uma vez que, para ele, 1941 foi o resultado desse processo. Sendo assim, precisamos falar, ensinar, explicar para a população brasileira, via ensino e currículo, para crianças, jovens, adultos e idosos, como foi possível o golpe de 2016 na Presidente Dilma Roussef e a prisão política do Presidente Lula em 2018, assumindo, entre outras coisas, a Petrobras e os grandes proprietários de terra como principais pivôs da ganância e da barbárie nacional.
E falar do tempo-hora como exigência de uma educação após fanatismo das massas e barbárie do mercado, também nos remete ao vigor, de um lado, do pensamento crítico em Paulo Freire. De outro lado, da Lógica do sentido de Gilles Deleuze (1998), trazendo para o debate a perspectiva temporal da atividade e da prática docente. Se para Paulo Freire, o tempo pedagógico, o agir docente em busca de efetividade e soluções implica, entre outras dimensões, a necessidade de conscientização e de inserção crítica das classes populares, e dos seus saberes, nos espaços de produção de conhecimento científico e de políticas de democratização do currículo, do acesso e da permanência ao ensino superior, para Deleuze, o tempo pedagógico, o fazer acontecer da atividade docente, opera a partir de dois aspectos distintos: tempo de Cronos e tempo de Aion. No primeiro, a figura temporal experimentada é cronologicamente e linearmente coercitiva, mensurada, classificada e que acelerar o tempo presente. No segundo, o tempo é efeito, é sentido como caos, como momento presente, que dura um instante e que é finito. Tempo Aion é um acontecimento, coexistindo com o tempo passado e tempo futuro.
Assim, em tempo-hora de fruição democrática e de sinais de aproximação de um mundo multipolar, que a prática educativa de professoras e professores no Brasil, mobilize recursos interiores para humanizar o tempo Aion como ponto de virada, de não repetição de catástrofes humanitárias ou ambientais, de efeitos potentes na vida das pessoas, manifestando e expandindo para todo o planeta possibilidade de presente, de futuro e de elaboração do passado, ofertando nova consciência ecológica e ambiental, cultural, profissional, curricular, econômica, pedagógica, política, sanitária, social.
Keyla Ferreira
Muito bom!
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