Giras(sóis)

Girassóis da terceira semana de setembro ou da homenagem a Paulo Freire

“Se a mudança faz parte necessária da experiência cultural, fora da qual não somos, o que se impõe a nós é tentar entendê-la na ou nas razões de ser. Para aceitá-la ou negá-la devemos compreendê-la, sabendo que, se não somos puro objeto seu, ela não é tampouco o resultado decisões voluntaristas de pessoas ou grupos”. Fragmentos da escrita de Paulo Freire no seu livro póstumo Pedagogia da Indignação. Cartas pedagógicas (https://nepegeo.paginas.ufsc.br/files/2018/11/Paulo-Freire-Pedagogia-da-indigna%C3%A7%C3%A3o.pdf ), que refletem e afirmam sua práxis, sua preocupação e seu cuidado de educador-político do mundo, em particular, com a constituição do sujeito antropológico-político, crítico e de percepção lúcida dos fatos e das mudanças sociais, em sua relação com a produção social da cultura, com a educação pública e com os enfoques epistemológicos que orientam e criam subjetividades e objetividades advindas dessas interfaces e articulações, baseando-as seguramente nos conhecimentos, saberes e atitudes democráticas que denunciam, anunciam e humanizam pessoas e mundos. Especialmente, em realidades sociais onde o racionalismo agressivo das forças retrógradas, de pessoas e de grupos, tentam se impor, oprimir, embrutecer o sujeito e a cultura com seus discursos e movimentos aligeirados de mudanças, sejam elas econômicas ou tecnológicas, caracterizados pelo que Paulo Freire denominou de vontade ilimitada, despótica, negadora de outras vontades…vontade ilícita dos “donos do mundo” que, egoístas e arbitrários, só se vêem a si mesmo (https://nepegeo.paginas.ufsc.br/files/2018/11/Paulo-Freire-Pedagogia-da-indigna%C3%A7%C3%A3o.pdf ).

Assim, e diante da relevância do pensamento humanista de Paulo Freire, Patrono da educação brasileira, para a necessária reconstrução da cultura, da política, da educação, da economia e da universidade pública no Brasil atual, destacamos dois acontecimentos que, na semana passada, reiteraram sua importância e contribuição para as áreas do conhecimento e, sobretudo, para a defesa e preservação da educação pública, laica, gratuita. O primeiro, concerne aos preparativos do centenário de Paulo Freire, que será celebrado nos anos de 2021 (https://www.youtube.com/watch?v=vbdoBQ674NY ). O segundo acontecimento foram as celebrações do seu aniversário de 99 anos, festejado em todo o mundo no último dia 19 de setembro, em especial, pelo Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco, centro sede da Cátedra Paulo Freire que, desde os anos de 2009, preserva a memória e intensifica atividades de estudo, extensão e pesquisa da Pedagogia Paulo Freire (https://www.youtube.com/watch?v=FwT7Ix2O4ns  http://www.catedrapaulofreireufpe.org/ ).

Em outros termos, mas com o mesmo exercício humanista de Paulo Freire, há, acreditamos, gritos da vida a ecoar no mundo, originalmente potente, criadora e criativa (https://mst.org.br/2020/09/20/a-comida-e-o-primeiro-remedio/ ). Há, sentimos e vemos, embustes de desenvolvimento e progresso, que por inventar excesso de necessidades e mercadorias, tenta, segundo a segundo, vincular a vida, das pessoas e do planeta, ao silenciamento da sua complexidade, evitando, temendo, acomodando, desistindo da luta e naturalizando contradições. Negando-se a olhar no espelho (https://www.youtube.com/watch?v=0WfWxCUUlBo ) e incapaz de exercer dinâmicas inovadoras entre capital e trabalho, entre o ser humano e a Mãe Terra, se esforçando, desesperadamente, para destituir a presença a priori da vida no mundo, exterminando povos originários, negros, pobres, agricultores, trabalhadores, reforçando mentalidades e práticas ultraliberais, colonialistas, de gestão de brutalidades, injustiças sociais e mortes (https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/produtora-de-festa-em-iates-no-guaruja-diz-que-pandemia-e-inventada/  https://www.brasil247.com/brasil/brasil-descredencia-diplomatas-da-venezuela-apos-visita-de-pompeo-subordinacao-total-diz-chanceler-venezuelano ).

E, então, “a terra tremeu/Tremeu, tremeu, tremeu! E o céu mudou de cor/Mudou de cor, de cor, de cor!” Oceano Atlântico, Fernando de Noronha, Pernambuco. Terremoto de 6,5 na escala Richter! Um fenômeno atípico para a região, segundo afirmação do Secretário do Meio Ambiente de Pernambuco (https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/pais/terremoto-de-69-graus-atinge-oceano-atlantico-perto-de-fernando-de-noronha-1.2990507 ). Assim, embaladas pela letra da música de Maria Betânia, “A terra tremeu”, perguntamos: Será este fenômeno mais um episódio da revolta da Terra em decorrência da desastrosa e descuidada intervenção do homem sobre ela? Não será a pandemia do novo coronavírus suficiente para que a Terra expresse a sua ira sobre os homens? Seremos capazes de ouvir o que a Terra nos anuncia?

Certamente, ainda levará um tempo até que entendamos o grito da Terra em socorro também da saúde dos seres humanos. É por essa falta de compreensão ou incapacidade de escuta que, no Brasil, a terra atualmente arde brutamente no Pantanal e na Amazônia. Mas, as possibilidades de ajuda começam a tomar forma, seja em um movimento de fora ou de dentro do próprio país.

Como um movimento de fora, reconhecemos a carta de países europeus, enviada ao Vice-Presidente da República, em protesto à política ambiental brasileira (https://www.bbc.com/portuguese/brasil-54181888 ). Dentre outras questões abordadas na carta, as nações que a assinam afirmam que “esperam um comprometimento renovado e firme do governo do Brasil para reduzir o desmatamento que seja refletido em ações reais e imediatas”. Do lado de dentro do Brasil, verificamos o documento elaborado pela coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, formada por representantes do agronegócio, por entidades não-governamentais (ONGs) e outros setores, e enviado ao Presidente da República. Este documento se traduz em “um pacote de seis ações a serem adotadas para buscar a redução rápida e permanente do desmatamento no Brasil, especialmente na área da Amazônia Legal” (https://www.terra.com.br/noticias/ciencia/sustentabilidade/meio-ambiente/agronegocio-e-ongs-apresentam-acoes-para-conter-desmatamento,3f8fbc3a5582f874030d6d9737d5f3bexxqca3vx.html ). Nos dois documentos, há a expressa preocupação com as questões socioambientais aliadas às questões econômicas desde uma perspectiva da sustentabilidade.

Talvez nesse momento, os motivos econômicos impulsionem mais que os motivos sociais, ambientais e humanos em combate à destruição do Pantanal e da Amazônia, mas as reinvindicações podem atingir e sensibilizar as pessoas Por isso, como dizia o educador pernambucano e cidadão do mundo Paulo Freire, a quem fazemos homenagem por seu aniversário neste 19 de setembro de 2020, a “Educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo”.

Keyla Ferreira e Sandra Ataíde

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