EntreLAÇadOS


Minha Experiência do Isolamento Social

O  isolamento social causado pela pandemia está sendo profundamente educativo e intensamente pedagógico para mim. Estou com tempo livre para prolongar e estender meu conhecimento intelectual e práticas de meditação (estado de consciência) para minhas atividades diárias de condução e cuidado de si: atitudes, conexão espiritual e com a natureza, moradia material, esforço docente e atuação profissional, relações interpessoais, afetos, pensamentos. E nesse exercício de saber quem se é, de olhar para a própria existência e ser interior, autoconhecimento, reinvento modos outros de conduzir e edificar a minha vida a partir de agora. Resistência, crítica, ato, clareza, fluência, renascimento. Manifestações materiais basilares e coletivas para mim. “Tem método na loucura”. Lembro-me de ter lido essa frase em Hamlet e de como ela tem apoiado minha compreensão acerca do poder, estrutura social, psicopolítica, biopolítica, necropolítica, antidemocrata, dos mecanismos, grupais e emocionais, promovido pelo capitalismo mundial no nosso tempo. Reinventar formas de enfrentamento e transformação realmente radicais diante da dominação soberana e perversa do neoliberalismo, seu “fazer viver” e “deixar morrer”, que engole corpos e bens simbólicos como garantia de lucro. Essa é minha experiência humana no isolamento social que, longe de aguçar meu isolamento afetivo, representa a tarefa humana e coletiva, sensível e urgente, de aprimorar os usos e o alcance dos recursos e serviços públicos no nosso país e mundo. (Keyla Ferreira)

7 comentários em “EntreLAÇadOS

  1. Vou postar aqui mesmo. Depois, eu posso esquecer. É algo que me tem ocorrido com mais frequência: esquecimentos. Eu talvez penda mais para o psicológico nesse relato, porque sou psicólogo, talvez. Então esqueci de cancelar assinatura do Telecine Play (eu assinei só pra ver Bacurau de graça, e esqueci de cancelar depois), esqueci de pagar internet, água, esqueci datas de aniversários importantes (tipo, que eu lembrava tão bem como a minha… e eu não tenho certeza ainda se lembrei. Lembrei nada…), números de telefones importantes estão parecendo aos poucos incertos, estranhos. Eu estou achando isso bem interessante e agradável. Eu acabei de esquecer o nome de Manuel de Barros, um dos poetas que mais gosto. Há uma lista grande de esquecimentos que pararei por aqui. Minha esposa e filha estão usando com muita frequência um tal de TikTok (acho que é isso mesmo) e isso de certo modo as alegra bastante. Eu tenho estudado o idioma italiano e tenho mexido com música e com argila. E tenho estudado psicologia, coisas do doutorado, principalmente. E tenho feito novas receitas. E tenho dado aulas de inglês às duas moças. Muito interessante experiência tem sido esta, por sinal. Estou mais caridoso, mais bonachão, eu acho. Muito preocupado fico em pegar o vírus, não saio de casa, quase. Raramente eu saio, pra comprar comida. Tem sido uma experiência até pessoalmente interessante. Meus sonhos (sonho de dormindo mesmo, mundo onírico) estão mais longos e ricos e, curiosamente, ‘recordáveis’. Gosto que veio aqui outro dia uma borboleta. Estou há seis anos no Recife e nunca tinha visto isso. Meu gato outro dia comeu um passarinho. Nunca mais tinha visto essa cena, de gato com passarinho na boca. Amanheço no quintal e vem às vezes um beija flor beber água numa garrafinha que coloquei para eles. Veio uma manhã um bem-te-vi enorme, amarelão, lindo. A arte tem mostrado mais o que é, para mim. É, ou ao menos parece ser, uma condição humana. Como a água sabe, ou o cálcio. Sem arte, sem ser artístico, a gente morre, eu acho hoje. Comecei Yoga mas não gostei. Não sei se foi a tutora vaidosa ou a série de posições. Chato, achei (que namasté o quê!). Mas tem gosto pra tudo. A quarentena deixou mais fácil lavar a louça. Até varrer. O Brasil está essa loucura até um pouco assustadora. Evito pensar nos desdobramentos próximos. Espero que a gente resista e lute sempre. Amo muito o Brasil e o povo brasileiro e nordestino, principalmente. Acho que estamos muito doentinhos. Uma pena. Morreram pessoas tão boas, como o Aldir Blanc. O Brennand, uma pediatra amiga de mainha, um rapaz trabalhador (que trabalhava muito) aqui do bairro, aquele ator, Migliaccio, por esses dias. O Moraes, rapaz… Só gente boa, morrendo. Eu acho curioso esse movimento. Bem, espero ter ajudado. Acho que tenho sido um bom confinado. Tenho lidado bem com isso. Eu recomendo a todos, principalmente aos que estão se atrapalhando nesse momento; arte. Arte e churrasco e despreocupação e esquecimentos têm me feito muito bem. O celular nesse contexto atual, para mim, ficou mais fraco. Mas talvez funcione bem para passar um trote inofensivo.
    Se cuidem tod@s. Alegria, ânimo e coragem.

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  2. Que lindeza de texto!! tão profundo e tão adequado aos nossos tempos!! Gratidão pela concessão do maravilhoso texto, Newton Moreno.

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